Nascido em Kíev, Mikhail Afanassievich Bulgákov (1891-1940) se formou médico e foi voluntário da Cruz Vermelha durante a Primeira Guerra Mundial. Depois da vitória bolchevique em 1917, quis emigrar, mas não obteve permissão. Aos 30 anos, abandonou a medicina para se dedicar à literatura e mudou-se para Moscou, onde ainda se respirava, nos meios artísticos, a atmosfera fervilhante de diversas correntes de vanguarda. O escritor era amigo e companheiro de bilhar do poeta revolucionário Vladimir Maiakóvski, embora não comungasse de suas crenças políticas. Casou-se três vezes e, durante praticamente toda a sua vida de literato, em que se recusou a participar do sindicato oficial dos escritores criado por Stalin, foi monitorado e perseguido.
Antes da encenação de Os dias dos Turbin, Bulgakóv havia escrito sátiras como O coração do cachorro, uma distopia sobre os descaminhos da pseudociência que pretendia criar "uma nova estirpe humana", imediatamente "denunciadas" e consideradas anticomunistas. Em 1932, conseguiu levar ao palco uma peça sobre Molière, apresentada sete vezes antes de ser proibida. Ao longo de onze anos, Bulgákov escreveu O mestre e Margarida, em que o Diabo, disfarçado de um professor espirituoso, surge cercado de uma comitiva em Moscou. Entre seus assistentes mais notáveis estão um imenso gato preto e falante, um assassino profissional fleumático e uma feiticeira sempre nua. Intercaladamente, o "mestre", um escritor, vai a um hospital psiquiátrico para encenar a história de Jesus. Margarida, inspirada na última mulher de Bulgákov, é apaixonada pelo "mestre". O romance só foi publicado em 1966 – mais de 26 anos depois da morte de Bulgákov – na União Soviética, em versão mutilada. O texto integral só sairia em 1989.