Cabo Verde é um arquipélago africano formado por dois conjuntos de ilhas localizadas a cerca de 500 quilômetros da costa do Senegal. Encontrado inabitado em 1460 por navegadores genoveses a serviço da coroa portuguesa, o arquipélago será transformado em um território largamente utilizado como uma grande plataforma de apoio ao tráfico de escravizados africanos. A contrapelo da infâmia, contudo, as diferentes denominações étnicas que foram sendo levadas para as ilhas forjaram uma sociedade única cujas inúmeras frentes de resistência produziram fenômenos sociais duradouros e com fortes raízes nas camadas populares do país. As inúmeras técnicas de pesca artesanal presentes em praticamente todas as cidades e vilas litorâneas do país se configuram como uma destas frentes mais importantes ao jogar papel central na garantia de autonomia para amplas camadas da população. Ocorre que apesar de sua presença marcante no cotidiano das ilhas, a comunidade artesanal pesqueira não tem encontrado amparo para suas reivindicações políticas. Partindo de trabalho de campo realizado junto aos pescadores e peixeiras de Porto Inglês, centro administrativo da ilha do Maio, esta etnografia busca compreender como a marginalização política destes atores sociais em questão tem se articulado à trama de interesses nacionais e estrangeiros em nome da expansão do projeto de exploração industrial do pescado na região.
